O primeiro encontro do Grupo de Irrigação e Fertirrigação de Cana-de-Açúcar (GIFC) em 2014, realizado no dia 13 de fevereiro, em Araçatuba (SP), contou com palestras de pesquisadores e professores da UNESP e do IAC que debateram a importância do conhecimento técnico das características de solo, fisiologia da cana e do manejo da água para o desenvolvimento de projetos sustentáveis de irrigação e fertirrigação. Mais de 90 representantes de usinas e empresas ligadas ao setor participaram do evento.
A reunião aconteceu em um período apreensivo para o setor, que já contabiliza quais serão os efeitos negativos da mais longa estiagem enfrentada pelo Brasil nas últimas seis décadas. O tema pautou o debate entre os palestrantes e os integrantes do grupo, que tem sede em Ribeirão Preto (SP), mais de um ano de atuação e é o primeiro do gênero organizado no Brasil.
Composto por 150 associados, o GIFC promove a troca de informações e experiências sobre irrigação e fertirrigação por meio da realização de reuniões, palestras, seminários e outras iniciativas. Entre os associados estão representantes de 83 usinas brasileiras, mais de 20% das unidades em operação no País.
O presidente do GIFC, Marco Viana, que é gerente agrícola da Usina Santa, e tem mais de 30 anos de experiência no setor sucroenergético, abriu a reunião destacando que o momento é delicado. “Nunca vi uma seca tão intensa nos primeiros meses do ano como agora. A cana de safra certamente não conseguirá se recuperar e as usinas devem registrar perdas de produtividade”, afirmou Viana.
O consultor do GIFC, responsável pela condução de experimentos com irrigação e fertirrigação desenvolvidos pelo grupo em parceria com entidades e usinas pelo país, Sérgio Veronez, explicou que a primeira reunião de 2014 foi motivada por questões fundamentais levantadas pelo grupo durante o encontro inaugural, ainda em 2012. “Convidamos especialistas em solo, fisiologia e água para debater de forma mais aprofundada e nos ajudar a responder as questões fundamentais que motivaram a criação do Grupo, entre elas como o manejo da irrigação pode contribuir para o aumento produtividade da cana de forma sustentável”, explica Sérgio.
Os especialistas apresentaram diversas informações técnicas, científicas e dados que ajudaram os integrantes a aprofundar o debate sobre a importância do investimento em pesquisa e experimentos para o bom desenvolvimento de projetos de irrigação e fertirrigação, e sobre como a falta de água pode afetar de forma irreversível o desenvolvimento da cana.
Manejo sustentável da irrigação
O setor não pode ficar refém do clima, da pouca disseminação de informação e do baixo investimento em irrigação. Essas foram algumas das afirmações ressaltadas pelos especialistas convidados pelo GIFC.
O pesquisador, professor doutor Hélio do Prado, do Instituto Agronômico (IAC), e especialista em pedologia, técnica de classificação dos solos, destacou que o profundo conhecimento do ambiente de produção da cana - a interação entre solo e clima - é fundamental. Os solos apresentam características muito variadas em uma mesma região. “O encontro do GIFC reforça a importância de se conhecer muito bem o solo antes de desenvolver um projeto de irrigação, que promovido de forma correta melhora muito as condições do ambiente de produção da cana”, afirma. Hélio do Prado apresentou dados de pesquisas do projeto AMBICANA, do IAC, que percorreu 20 usinas entre o Paraná e Piauí.
O professor doutor Paulo Alexandre Monteiro de Figueiredo da UNESP – Universidade Estadual Paulista, do Campus de Dracena, fez palestra sobre a fisiologia da cana. Ele foi enfático ao dizer que as perdas hídricas da cana no processo inicial de seu desenvolvimento podem não ser recuperadas. Por isso, enfatizou a importância da irrigação. “As deficiências hídricas que vão ocorrendo ao longo do ciclo da planta são praticamente irreversíveis e as perdas fatalmente irão acontecer, se a água não for reposta na hora certa e da forma correta. É preciso que ocorra um acompanhamento muito grande em relação à fisiologia da cana e os fenômenos climáticos que vão acontecendo para que a planta chegue na hora de sua colheita no melhor do seu estágio de matéria-prima”, concluiu.
Fernando Braz Tangerino, professor da UNESP de Ilha Solteira, e coordenador da área de Hidráulica e Irrigação, tem a expectativa que encontros como os promovidos pelo GIFC sensibilizem o setor a investir em irrigação. “Especialmente no Noroeste Paulista onde temos uma grande variabilidade de chuva e balanço hídrico negativo, buscamos entender porque o setor pouco irriga. Ainda mais porque temos resultados comprovados de ganho de produtividade com o manejo da água. Para mim, a irrigação no setor sucroalcooleiro é fundamental para a sustentabilidade”, afirmou. O professor discutiu em sua palestra manejo, sistemas e viabilidade técnica de projetos de irrigação, entre outros aspectos.
A próxima reunião do GIFC acontecerá no dia 10 de abril na sede da Usina Moema, do Grupo Bunge, em Orindiúva, São Paulo. “Estamos com calendário todo definido para 2014, com reuniões que serão realizadas nas regiões onde o grupo desenvolve experimentos. E já estamos trabalhando para a organização do nosso primeiro seminário, previsto para acontecer durante o ano em Goiânia”, revelou Marco Viana, presidente do GIFC. Mais informações sobre como se associar ao grupo podem ser encontradas no site www.gifc.agr.br e pelos telefones: (16) 3602-0900/ (16) 9 8132-4226.