Aos 17 anos e me preparando para o vestibular em 1984, tive a oportunidade de assistir em Ribeirão Preto a uma palestra do líder comunista Luis Carlos Prestes. O homenzinho, à época com 86 anos, impressionava pelo indiscutível protagonismo na marcha dos acontecimentos do século XX no Brasil e pela capacidade de síntese dos fatos históricos. Entre tantas facetas a absorver, eu pretendia entender como o Cavaleiro da Esperança perdoara Getúlio e aderira ao “Queremismo” em 1945, após nove anos atrás das grades e a extradição da companheira Olga Benário, grávida, para a Alemanha e posteriormente levada à morte nos campos nazistas, sob a anuência do caudilho de São Borja.
Relembrando: Prestes, herói tenentista e convertido ao comunismo, fora preso em 1936 em seguida à Intentona. Sua guarda-costas e amante, a revolucionária judia alemã Olga Benário, também caiu nas mãos da polícia e, mesmo com uma filha de Prestes no ventre, foi despachada cruelmente para as autoridades de Hitler. Já o Queremismo, com adesão dos comunistas, foi um movimento no apagar das luzes do Estado Novo favorável à permanência no poder de Vargas, destituído pelos militares em outubro de 1945. Perguntado como
pode apoiar seu carrasco, Prestes se saiu com essa: entre os ressentimentos pessoais e os interesses do povo brasileiro, ficava com os últimos.
Agora em 2018, temos aí dois candidatos no 2º turno com índices de rejeição que beiram os 40%. Imagino que ao menos um terço do eleitorado não queira Bolsonaro ou Haddad nem pintados de verde no Palácio do Planalto. Para escapar da abstenção, voto nulo ou branco, esse expressivo contingente de votantes terá que optar pelo menos ruim ou, em outras palavras, deixar de lado os “ressentimentos pessoais”. Quais?
Se a escolha se recair em Haddad, releve tudo o que o PT já fez de mal: o aprofundamento da corrupção, o aparelhamento das instituições, a colossal crise econômica herdada, o apoio incondicional ao bolivarianismo, o projeto de poder, a incapacidade de fazer autocrítica e o populismo quase asqueroso de Lula. Se for de Bolsonaro, varra para debaixo do tapete as declarações deplóraveis já proferidas pelo ex-capitão, sua agressividade, a suspeita conversão relâmpago do estatismo / corporativismo ao liberalismo, a falta de experiência de gestão, a ausência de plano de governo, o risco do autoritarismo e a aprovação da ditadura.
A decisão é pessoal e vem lá de dentro. Dê uma azeitada nas mágoas e reflita, como fez Prestes, sobre o tal interesse do povo brasileiro.
Gustavo Junqueira Jr / Diretor da Conceito Comunicação
*Artigo publicado no jornal A Cidade, Ribeirão Preto, em 13/10/2018.