01/04/22
Em 2020, no auge da pandemia, o Google, conhecido por sempre celebrar o Dia da Mentira com sacadas inteligentes e espirituosas, soltou um comunicado interno para suas equipes, orientado todos a evitarem brincadeiras e piadas com mentiras relativas ao 1º de Abril. A preocupação, no momento, era orientar os seus milhões de usuários com informações de qualidade sobre o Coronavírus e evitar a disseminação de notícias falsas. Escreveu a diretora de Marketing da empresa, Lorraine Twhohill, naquele ano: "Vamos deixar as piadas para o próximo abril, que com certeza será muito mais brilhante do que este.”
Transcorrido um ano, em abril de 2021, lemos na Folha de S.Paulo a seguinte manchete: “No 1º de Abril, veja mentiras sobre a Covid”. O jornal compilava uma série de informações imprecisas e não comprovadas sobre o Coronavírus, muitas delas espalhadas com a ajuda de políticos e de governantes nas redes sociais.
A matéria fazia a gente pensar numa comparação muito simples e objetiva entre a Covid e as Fake News: seriam elas um vírus altamente contagioso que se espalha rápido demais?
É exatamente essa velocidade e poder de transmissão que faz das Fake News uma ferramenta de contaminação do debate público, promovendo cancelamentos de pessoas, marcas, empresas, reputações, transformando todos em reféns de notícias falsas. Um estudo realizado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) verificou que as notícias falsas se espalham 70% mais rápido do que as verdadeiras e alcançam muito mais gente.
Fabio Correa Xavier, Diretor do Departamento de Tecnologia da Informação do TCESP e Mestre em Ciência da Computação, escreveu, recentemente, em sua coluna no MIT Technology Review, versão brasileira da consagrada publicação do MIT, que há por trás da disseminação de notícias falsas uma dinâmica de semear a desconfiança com objetivos de gerar debates e discussões e de até induzir pessoas a pensarem de determinada forma ou a realizarem determinadas ações.
“Muitas dessas Fake News são especificamente projetadas para exacerbar as discussões e dinâmicas sociais e culturais, empregando de forma equivocada assuntos delicados e controversos, como política e religião. As notícias falsas têm um impacto adverso sobre os indivíduos e a sociedade, pois deliberadamente persuadem os consumidores a aceitar inverdades que são infinitamente compartilhadas com o objetivo de induzir as pessoas a agir de acordo com um objetivo específico”, argumenta Xavier.
O resultado dessa enxurrada de notícias falsas pode afetar as relações de consumo, as eleições políticas e até a saúde, como vimos durante a Pandemia. É por isso que a epidemia de Fake News é um desafio para as organizações e marcas, afirma Xavier, porque elas “acabam espalhando um ponto de vista ou opinião específica sobre um produto, marca ou organização, que podem não ser verdadeiras, ou pior, podem ser deliberadamente forjadas para enganar os consumidores”. Basta lembrarmos dos anos eleitorais, como as eleições presidenciais nos EUA, em 2016, e no Brasil, em 2018. Todos vimos o poder influenciador das fake news.
Diante de mais um 1º de Abril, como lidar com as falsas notícias que tomam conta das redes sociais, é a pergunta que ainda ressoa. Primeiro precisamos entender como se dá a disseminação. Os estudos do MIT indicam que, além da rapidez de espalhamento, chegando a 1.500 pessoas seis vezes mais rápido, as notícias políticas possuem mais poder de engajamento, assim como dinâmica das “bolhas culturais, sociais e políticas”, campo fértil pra a proliferação e reafirmação de crenças e verdades sem comprovação.
Há também um componente chamado de “hipótese da novidade”, já que as pessoas são mais propensas a compartilhar informações que consideram novas, e também aquelas que suscitam sentimentos e reações negativas, como surpresa desagradável, nojo, medo e repulsa. Já sabemos que o Facebook, por exemplo, dá cinco vezes mais engajamento para posts que recebem o ícone de “raiva” ao invés do “curtir”.
O que fazer para se proteger das Fake News? Há inúmeras agências de checagem de fatos atuando no Brasil, que funcionam como uma espécie de selo de veracidade das informações publicadas nas redes sociais. Temos o Projeto de Lei 2.630/2020, conhecido como PL das Fake News, ainda em discussão no Congresso Nacional desde 2020. Mas é preciso entender as Fakes News já são uma característica endêmica da nossa cultura online de compartilhamento constante de informações.
Fiquemos então com a avaliação final do colunista do MIT Technology Review, Fabio Correa Xavier, que nos ajudou a refletir sobre este tema. “As pessoas acabam internalizando informações falsas como fatos, a verdade se torna cada vez mais subjetiva, criando um público mal-informado”, avalia. E como, na maioria das vezes, no voraz mundo as redes, as pessoas nem sempre analisam as informações que recebem, o melhor caminho para tratar o problema é a educação, afirma Xavier.
Ele defende “uma alfabetização crítica desde a tenra idade, fazendo com que as pessoas exercitem cada vez mais o pensamento crítico. E, mais que isso, uma alfabetização crítica digital, ou seja, além de entender como a tecnologia funciona, compreender também a sua função social e como as redes sociais operam e as implicações do compartilhamento, processamento, internalização e consumo de informações, de forma a criar cidadãos preparados e criticamente engajados”, conclui.
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